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Terremoto no México

SOBRE O TERREMOTO NO MÉXICO:

Um forte terremoto voltou a atingir o México nesta terça-feira, 19 de setembro de 2017, às 13:14h (horário local). O epicentro do sismo, de 7,1 graus de magnitude, com profundidade de 51km (segundo a USGS), em Izúcar de Matamoros, a cerca de 12 quilômetros da localidade de Axochiapan, no Estado de Morelos (centro do país), mas o tremor de terra foi sentido na Cidade do México, capital mexicana, onde dezenas de prédios caíram, bem como em Puebla, Morelos e Guerreiros. A contabilidade da tragédia alcança 224 mortos até agora (às 8h do dia 20/09/17), e pode crescer.

O terremoto ocorreu apenas dez dias depois de outro tremor de terra, de magnitude 8,2 graus na escala de Richter, com profundidade de 69,7 Km, sacudir o sul do país e deixar mais de uma centena de mortos nos Estados de Oaxaca, Chiapas e Tabasco. Porém, trata-se de uma região menos densamente povoada.

Este terremoto terá tantas vítimas como foi observado no abalo de 19/09/1985? Não. O Código de Obras e a engenharia do México mudou bastante de lá para cá. Obviamente ainda se encontram construções antigas – já muito desvalorizadas, e sem aceitação para coberturas de seguros contra sismos – que não estão adaptadas ao novo sistema. No entanto, a maioria das edificações já conta com sistemas protecionais de abalos sísmicos, que os mexicanos foram buscar a tecnologia no Japão. Nos prédios são instalados amortecedores eletrônicos, que podem ser controlados à distância. Em prédios mais simples são usados amortecedores de molas que funcionam de um jeito parecido à suspensão de veículos. Os engenheiros também colocam um material especial para amortecer as junções entre as colunas, a laje e as estruturas de aço que compõe cada andar. Esse material ajuda a dissipar a energia quando a estrutura se movimenta em direções opostas, assim o prédio não esmaga os andares intermediários.

Além disso, o aftermath dos mexicanos é muito preparado. Organizados pelo Sistema Nacional de Protección Civil (SINAPROC), eles fazem treinamentos contra sismos a cada 2 ou 3 meses, semelhantes aos treinamentos contra incêndio experimentados no Brasil. Os hospitais já contam com equipes médicas preparadas e material para atender a estes tipos de ocorrência, envolvendo cirurgias para traumas por desabamentos, amputações, queimaduras, etc. Há brigadas especializadas e treinadas pela Defesa Civil mexicana, voluntários em resgates, incluindo até equipes especializadas em PETs, Crianças ou Idosos. Áreas pré-definidas e conhecidas para abrigos e reencontro de familiares.

Treino é treino, jogo é jogo: tudo isso funciona bem? Claro que não. Por isso as autoridades não param de repetir as recomendações, como alguns dos seguintes exemplos:

1)      Compartilhar sua energia elétrica, caso na sua região ainda tenha, sobretudo para a recarga de celulares; Compartilhe e tire a senha de sua rede WI-FI;

2)      Evite congestionar linhas telefônicas, prefira usar rede de dados e internet para se comunicar;

3)      Faça silêncio nas áreas afetadas para permitir se ouvir chamados e gritos de vítimas;

4)      Doe sangue, água, mantimentos para hospitais e abrigos;

5)      Não fume e nem produza faísca (inclusive uso de lanternas inadequadas e celulares) pois há muito vazamento de gás;

6)      Não bloqueie estradas e vias, mantenha passagem livre para veículos da defesa civil e bombeiros. Evite usar seu carro. Fique em casa.

O que esperamos?  O México demora a sair dessa tragédia?

Infelizmente a contabilidade de vítimas ainda deverá crescer, teremos as réplicas que podem prejudicar ainda mais o trabalho de resgate e abalar os prédios já afetados.

O México não deve demorar tanto assim para se recuperar dessa catástrofe, a despeito de sua magnitude o país está muito mais preparado até quando tratamos dos recursos financeiros. No terremoto de 1985 os prejuízos segurados atingiram US$ 400 milhões, de um total de US$ 8,3 bilhões de prejuízos totais.

Agora o México está muito mais atento e preocupado com esse fenômeno, tendo fechado 2016 com US$ 1 bilhão (segundo a AM Best) em reservas de seguros para catástrofes (valores cobertos por apólices de seguros). Portanto, tendo ocorrido em uma região mais densamente povoada e rica (onde há penetração de contratos de seguros), é possível que tenhamos bastante recursos disponíveis para a sua reconstrução.

Além disso, o México também conta com o FONDEN – Fondo de Desastres Naturales – implantado pelo governo mexicano em 1996, o Fundo estimava alcançar US$ 845 milhões em 2018, e recentemente o governo lançou no mercado de resseguros, em agosto de 2017, outros US$ 360 milhões em títulos de catástrofes (Cat bonds). O fundo paga 50% da reconstrução de casas e empresas particulares que tenham contratado seguro (uma exigência). Para se compreender mais sobre o seguro que o morador da Cidade do México contrata, uma residência segurada em US$ 85.000, (importância segurada) paga por ano (prêmio) de US$ 450, à US$ 648. Ou seja, as taxas variam de 0,53% à 0,80% do patrimônio segurado. Bastante razoável, considerando o risco de terremoto. Atualmente, no México, 25 companhias de seguros fazem os seguros residenciais com cobertura para terremoto, onde se destacam: La Latino Seguros, ABA Seguros, HSBC México, AXA Seguros y Aseguradora. A Comisión Nacional Para la Proteccion y Defensa de los Usuarios de Servicios Financieros publica todos os anos um acompanhamento e avalia a qualidade das seguradoras mexicanas.

O governo mexicano (estaduais e federal) gasta anualmente US$ 1,5 bilhão com reconstrução de áreas atingidas por desastres naturais (inclui furação e alagamentos).

As perguntas de sempre:

Por que temos tantos terremotos no México? O país está localizado na confluência de diversas placas tectônicas: Placa de Rivera (bem menor), Placa de Cocos, Placa do Caribe e Placa Norte Americana. O México conta também com 3.000 vulcões, dos quais ao menos 14 vulcões estão ativos, sendo as últimas erupções observadas em 2016 (Colima e Popocatepetl). Em outras palavras, o México está localizado em uma região geologicamente em constante deformação e de elevado risco.  A cada ano são registrados aproximadamente 90 abalos superiores a 4 graus na escala Richter.

Temos como prever terremotos? Não. A tecnologia ainda não avançou o suficiente para dominarmos e conhecermos previamente todos os futuros movimentos das placas tectônicas que compõem a litosfera terrestre. São áreas gigantescas, com fronteiras de muitos Km, e seria impossível prever onde haverá o ponto de ruptura, de falha, onde a placa irá ceder após seu movimento provocando a liberação de tamanha energia. Há sensores que captam os sismos mas com antecedência inferior a 1 minuto.

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Sinais de mudanças na superfície terrestre e o impacto no mercado segurador

Erupção vulcânica na Islândia é a maior dos últimos 200 anos no país.
Foto aérea mostra vulcão em erupção perto do Glaciar Eyjafjallajokull, na Islândia. Autoridades evacuaram 450 pessoas da área, 160 km a sudeste da capital Reykjavik. Trata-se da maior erupção da Islândia em 200 anos. Cientistas temem que a erupção possa detonar uma reação maior do vulcão Katla, que fica nas proximidades. (Foto: Ragnar Axelsson / AP)

Foto aérea mostra vulcão em erupção perto do Glaciar Eyjafjallajokull, na Islândia. Autoridades evacuaram 450 pessoas da área, 160 km a sudeste da capital Reykjavik. Trata-se da maior erupção da Islândia em 200 anos. Cientistas temem que a erupção possa detonar uma reação maior do vulcão Katla, que fica nas proximidades. (Foto: Ragnar Axelsson / AP)

Inúmeros terremotos tem acontecido nestes últimos 60 dias, alguns de grandes proporções, ao longo de todo o planeta.  Além de Haiti e Chile observamos tremores menores no Japão, Nova Guiné, Cuba (Guantánamo), EUA (Los Angeles), Peru, Turquia e Ilhas Molucas. O que facilmente nos remete a leitura de que as placas tectônicas do planeta estão em acomodação e movimento. Estamos instalados sobre um grande tabuleiro esférico de quebra-cabeças, onde as peças (placas tectônicas) tem tamanhos e formatos diferentes entre si. Ao se empurrar uma das peças dessarrumamos as outras (terremotos).

O prejuízo no Chile foi de US$ 30 bilhões, segundo seu presidente eleito, boa parte dos quais ressegurados – conforme o que as próprias companhias já anunciaram até o momento – ao longo do planeta: no Lloyds US$ 500 milhões, ACE com US$ 75 milhões, Montpeliers com US$ 100 milhões, Swiss Re com US$ 7 bilhões, Everest com US$ 225 milhões, Hannover com outros US$ 225 milhões.

Muitos (80%) dos títulos de catástrofes (derivativos utilizados para consolidar as reservas técnicas das seguradoras) vendidos neste exercício já foram separados para as indenizações com o Chile e a tempestade tropical Xynthia. Ou seja, os investidores terão prejuízos significativos neste negócio de risco neste ano. E o mercado segurador, parte dele recuperando-se da crise financeira de 2009, terá um ano (2010) difícil nos ramos diferenciados (catástrofes).