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Acidente com Plataforma de Petróleo Deepwater Horizon pode assumir grandes proporções

A Plataforma Deepwater Horizon, de propriedade da Transocean e que operava para BP (UK), explodiu de causa ainda desconhecida no dia 20 de abril de 2010. E após um grande incêndio acabou afundando no Golfo do México, no dia 22 de abril de 2010.

11 pessoas continuam desaparecidas. Após explosão e incêndio da plataforma, muitos funcionários para se salvar pularam ao mar de uma altura de 30 metros. Obviamente muitos ficaram feridos.

A Plataforma Deepwater Horizon foi construída em 2001 pela Hyundai, a obra custou US 350 milhões. Trata-se de uma plataforma semi-submersível de posicionamento por GPS de 5a geração. A Deepwater Horizon era uma plataforma de perfuração, projetada para operar em até 2.400 metros de profundidade, e afundou operando a apenas 1.500.

A Deepwater Horizon, segundo matérias na CNN, explodiu durante a fase de se concretar o furo (perfuração) na qual há elevado risco de blow-out, que é a perda de controle do poço pelo aumento súbito da pressão. Especula-se que este tenha sido o motivo da explosão, embora isso ainda dependa da investigação. O episódio do Golfo do México (mar da Louisiana – EUA) lembra o acidente com a P-36 da Petrobras, ocorrido em 2001. E mostra o perigo da operação petrolífera.

A americana Transocean, empresa resultado da fusão com a francesa Sedco-Forex, e que havia comprado a Falcon Drilling, contrata seguros patrimoniais para sua frota. Já a BP (British Petroleum) é self-insured, ou seja, banca o próprio risco, pois com o dinheiro gasto em seguros para cobrir todos seus ativos no planeta, daria para construir uma refinaria por ano.

A plataforma da Transocean, Deepwater Horizon, estava segurada por US 560 milhões. A liderança do resseguro está em Londres, onde há participação de quase todo mercado ressegurador.

A investigação da Deepwater Horizon depende de um submarino que, neste momento, tem como prioridade selar o poço de onde ainda percebe-se vazamento. As questões a serem respondidas por essa investigação passam por: Porque o BOP (Blow Out Preventer), que são válvulas que se fecham pelo comando do operador (Driller) ao sinal de pressão e fluxo exagerado, não segurou a erupção – “Kick”? Será que o BOP foi acionado pelo Driller? Será que o alarme de aumento de pressão funcionou alertando o operador do perigo? Nessa operação, conforme relatos coletados pela imprensa, também especula-se que eles possam ter atingido um bolsão de óleo desconhecido e não planejado quando dos estudos sísmicos.

Matéria do New York Times lembra que desde 2006 houve 500 incêndios em plataformas de diversas companhias petrolíferas operando no Golfo. Em gerenciamento de riscos sabemos que os incidentes constroem o caminho que leva ao acidente. No Golfo do México ainda tivemos, nos últimos 4 anos, 2 mortos e 12 feridos graves.

No entanto, o acidente com a Deepwater Horizon da Transocean não reduzirá ritmo de produção no Golfo do México. Conforme de depreende das entrevistas das empresas Statoil e Shell ao New York Times. Quase 10% da produção de petróleo mundial é off-shore. E 1/3 da produção dos EUA vem do Golfo do México, alcançando 1,6 milhão de barris por dia.

A BP está usando um submarino robô para tentar fechar válvulas no poço e acabar com o vazamento, mas a tarefa é extremamente complexa e pode não ser bem sucedida, disseram fontes da BP à agência de notícias Reuters. Ocorreu que os Riser´s – dutos que ligavam a plataforma ao poço – arrebentaram quando do afundamento da plataforma e aproximadamente 1.000 barris estariam sendo lançados ao mar por dia. Outra saída para se reduzir o vazamento será explorar o poço através de outra plataforma, aliviando a pressão e reduzindo assim o vazamento.

Para este trabalho a empresa também acionou outros 30 navios e vários aviões para espalhar agentes dispersantes sobre a mancha de óleo, os esforços haviam sido suspensos no fim de semana por causa do mau tempo com ondas de 3 metros e ventos fortes. Ainda assim, até o sábado (24), a equipe que trabalha na recuperação já havia lançado 7.190 litros (1,900 galões) de dispersantes químicos para quebrar o óleo e impedir maiores danos ao ecosistema.

Apesar de tudo isso, no dia 28 de abril, novos vazamentos foram descobertos. E dessa vez estima-se que 5 mil barris de petróleo estejam vazando por dia no oceano. Fato que tornaria este acidente o maior da história dos EUA, superando o triste recorde do Exxon Valdez no Alaska.

deepwater horizon incendio

Por Gustavo Cunha Mello

Prof. Gustavo Cunha Mello, Economista, com MBA em Gerenciamento de Riscos pela COPPE-UFRJ, Pós Graduação em Engenharia de Planejamento pela COPPE-UFRJ e Mestrado em Engenharia de Produção – Sistemas de Gestão pelo Latec-UFF. Gerente de Riscos, Corretor de Seguros, Perito Judicial e Investigador de Acidentes. Professor desde 2000 da Escola Nacional de Seguros – Funenseg – nos cursos técnicos e no MBA de seguros. Também é professor da UFF e do IBMEC nos MBAs de gerenciamento de riscos e gestão de projetos (PMBOK). Membro de Comitês na ABNT. Trabalha há 30 anos no setor de seguros e na consultoria de gerenciamento de riscos. Tendo concluído diversos cursos de seguros e análise de riscos no Brasil e no exterior através do AICPCU/IAA - American Institute for Chartered Property Casualty Underwriters and the Insurance Institute of America - Malvern - Pennsylvania, bem como cursos de Resseguros executados no Lloyds de Londres pelo CII – Chartered Insurance Institute. É articulista de diversas mídias especializadas em seguros e gerenciamento de riscos, bem como da Globonews e Bandnews na área de gerenciamento de riscos.

10 respostas em “Acidente com Plataforma de Petróleo Deepwater Horizon pode assumir grandes proporções”

Apenas uma colocação, o BOP como muito bem esplicou a grosso modo são válvulas para a prevenção de erupção, porém elas não fecham automaticamente a sinal de pressões elevadas que venham da formação para a plataforma (Kick), as válvulas são operados pelo Driller, desde o combate do Kick a desconexão de emergência.

Prezados, bom dia!

Ao ler este texto vi que o mesmo tem uma contradição muito forte, pois como a causa é desconhecida se mais adiante é relatada a questão do Blow Out? Já se pode perceber que esta foi a causa, pois a questão se agravou na fase de cimentação do poço.
Esta é uma fase muito delicada, pois trata da sustentação do poço a ser trabalhado.

Sem mais

Lillian Cristina

Lilian, obrigado pelo seu comentário. Você tem razão que o texto precisa explicar melhor minhas observações. Na verdade, ESPECULA-SE QUE possa ter havido Blow Out nessa fase que atravessava o projeto.

Bruno, obrigado por seu comentário. O texto, de fato, deu a entender que o BOP liga sozinho, o que é um erro. Você tem toda razão, antes os sistemas que monitoram a lama acionam um alarme para o operador avisando a possível erupção do poço. E o operador (driller) aciona o BOP remotamente fechando o poço. Para então tratar a lama (peso) para evitar o Blow Out.

Senhores, a plataforma ao entrar em modo de desconexão de emergência faz com que o BOP se feche automaticamente. Acredito que isto tenha acontecido. O que pode ter acontecido é que a ferramenta que desce os revestimentos tenha ficado em frente a gaveta cega-cisalhante, sendo assim, a gaveta ao ser acionada não conseguiu ser fechada por completo. Dessa maneira, tivemos o blow out.

Varios erros em sequência… infelizmente no golfo do México nao é obrigatório o uso do acústico que é mais uma ferramenta para fechamento da Gavetas do BOP

Prof.Gustavo Mello.
Sou especialista nesta area de controle de poço, tenho 34 anos que trabalho na construção de peços de petroleo, tanto onshore como offshore, portanto tenho bastanto ideia do que aconteceu e do desfecho final.
Para saber o que aconteceu, é muito simples basta analisar o historico das operações. Com certesa alguem tem salvo em um pen drive, mas pelo que estão especulando, que foi na operação de cimentação, discordo completamente, pois kick dar varios avisos, ou seja, para que tenha acontecida o blowout, varios indicios houveram, desde a não medição do retorno de fluido durante a cimentação até o relaxamento total da equipe principalmente dos supervisores. Traduzindo melhor, as empresas esta menosprezando treinamento dos profissionais nesta area, pois a quantidade de equipamentos e operaçõse envolvidos para fazer um poço de petroleo são muitos e envolve varios especialistas e generalistas, portanto para ser um supervisor nesta area requer muito treinamento e dedicação. As DRILLING CONTRACT, investe muito pouco em treinamento e as operadoras por sua vez não cobram, o resultado desta mescla é isso, o maior desastre ecologico de todos os tempos, pois somente poço de alivio resolve esta situação, pois a esta altura o BOP esta completamente erozionado, mesmo que os ROV´s consiga fechar alguma valvula, seja ela gaveta ou cega cisalhante, não foncionará, repito somente poços de alivio resolverá o que levará cerca de dois meses, este é o preço da ingerencia que esta acontecendo nas empresas e operadoras, infelizmente espero que este grave acidente faça com que as cabeças pensante mude as atitudes e invista mais em treinamento e retenção dos talentos e evite rotatividade.
Estou profundamente triste, pois sou da area e sei exatamente o que aconteceu, e continuarei na luta disseminando conhecimento para que jamais aconteça um acidente destas propoções, principalmente no meu Brasil.

Grande abraço

Eugênio Campos

Prezados Senhores:

Seria possível informar se no Brasil existe alguma regulamentação quanto ao uso de Blow Out Preventers?

Agradeço desde já a atenção dispensada.

Eduardo

Prezado Professor:

Seria possível informar se no Brasil existe alguma regulamentação quanto ao uso de Blow Out Preventers?

Agradeço desde já a atenção dispensada ao assunto.

Eduardo

Sr Eduardo
A indústria do petróleo é uma indústria que apesar do grande desenvolvimento ainda é algo artesanal, muitas soluções são aplicadas depois do problema ter se apresentado, o BOP que tem sido sempre aperfeiçõado é uma ferramenta antiga e indispensável na perfuração dos poços no mundo inteiro, podendo ser molhados ou secos. É obrigatório o seu uso a partir de certa profundidade de perfuração e suas características têm mudado quanto ao peso em função das jazidas de alta pressão que tem sido descobertas, mas sempre tiveram a mesma característica: a que se faz necessário seu comando para fechamento e certos cuidados com a posição da coluna de perfuração, pois na direção das emendas, elas são reforçadas e não facilita o cisalhamento quando acionado o BOP, mas, diante dessa tragédia, tenho certeza que o mundo achará baratinho uma “pescaria” , termo dado à recuperação da coluna cisalhada, mesmo que por erro humano (o que realmente motivou o não automatismo no fechamento do BOP em caso de falha foram os erros humanos), em função dos custos do acidente com a Deepwater Horizon e suas vidas perdidas. A regulametação na indústria do petróleo sempre ocorre depois dos acidentes, vamos aumentado o banco de “não pode”, mas enquanto um problema não aconteceu ele não é regulamentado, cabe as operadoras com suas exigências e suas Certificadoras (ABS, BV e outras) regulamentar e fazer cumprir tais regulamentações, os governos pouco sabem dessas operações para poderem policiar práticas irregulares ou arriscadas e como o petróleo e a mola mestra da economia global, faz-se vistas grossas a muitas irregularidades. Não há especialistas nas consultorias dos governos que estejam com interpretações regulares das normas existentes, cada um entende de um jeito.
O uso do BOP de munitoramento eletrônico é um realidade em desenvolvimento, hidroacústico, mas lembrem-se, um comando hidroacústico para fechamento terá de ser confirmado no período de três em três segundo por mais ou menos tres vezes, e isso acarretará um atraso no fechamento em mais ou menos 16 segundos somando com o tempo de resposta, é muito tempo e isso poderá ser fatal. Usaremos o sistema hidráulico por muito tempo ainda afinal eles não sofrem interferências comos os hidroacústicos, que vão desde as termoclinas, aos ruidos de outras embarcações, mas certamente desenvolveremos novas gavetas falha fecha automaticamente, pois esse acidente foi horrivel.

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