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Planos de Contingência e o Derramamento da CHEVRON em 10/nov/2011

A empresa CHEVRON Brasil (que comprou a TEXACO) vem trabalhando para conter o vazamento de óleo no Campo Frade, na Bacia de Campos, no Rio.  O vazamento começou na quinta-feira, 10 de novembro de 2011, a 120 Km do litoral de Campos no Rio de Janeiro. A expectativa de que o vazamento pode se pior do que havia sido divulgado no início fez, na semana do acidente, as ações da empresa caírem 3% na bolsa de Nova York.
 
Gráfico da Agência Estado Gráfico da Agência Estado

 Segundo a Chevron, todo o óleo vai ser sugado e despejado em instalações da própria Chevron. A Chevron afirmou que os navios que estão fazendo a limpeza “não usam areia nem dispersantes para controlar a mancha”. “As embarcações empregam métodos aprovados pelo governo brasileiro, que incluem barreiras de contenção, ‘skimming’ [técnica para retirar o óleo da água] e técnicas de lavagem, para controlar, recolher e reduzir a mancha”, disse a Chevron em comunicado oficial, no qual afirma também que já foram recolhidos “mais de 250 metros cúbicos de água oleosa”. De acordo com a multinacional, 18 navios estão tentando conter a mancha de óleo e não permitir que ela se espalhe. Oito são da própria Chevron e outros 10 cedidos pela Petrobras, Statoil, BP, Repsol e Shell.

Às 12h30 do dia 16 (6 dias após a divulgação do vazamento) começaram os trabalhos de cimentação do poço, passo anterior ao seu ‘abandono’, que significa fechar toda a estrutura aberta durante a perfuração que resultou no acidente com a colocação de lama e cimento.

A causa provável do acidente, segundo a Chevron, é uma falha geológica localizada a cerca de 150 metros de um poço injetor que estava sendo perfurado. SOMENTE ATRAVES DO RELATÓRIO FINAL DA INVESTIGAÇÃO DESTE ACIDENTE PODEREMOS AVALIAR O GERENCIAMENTO DE RISCOS DESTA OPERAÇÃO. MAS PODEMOS LEVANTAR HIPÓTESES PRELIMINARES PARA FATORES CONTRIBUINTES:

1) Falha no estudo geológico do subsolo;

2) Falha no EIA (Estudo de Impacto Ambiental);

3) Falha na precisão do Plano de Contingência;

4) Falha de engenharia nos cálculos do peso da lama e da pressão existente no posso.

Como ocorre em todos os vazamentos de petróleo as medições são apenas estimativas. Portanto, neste caso  – como sempre ocorre nos casos de vazamentos – também há divergência sobre a extensão atual da mancha de óleo, que chegou a atingir 160 quilômetros quadrados. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) diz que a área afetada é de 12 quilômetros quadrados. Enquanto a medição da Chevron indica 1,8 quilômetro quadrado. Há ainda as estimativas da SkyTruth, site especializado na interpretação de fotos de satélite para fins ambientais, que a partir de uma imagem da NASA, concluiu que a mancha toma uma área de 2.379 Km quadrados (14,5 vezes o declarado pela Chevron) e que o total derramado pode chegar a 3.738 barris por dia, cerca de dez vezes mais do que o declarado pela Chevron.

Foi formado um grupo de acompanhamento criado para fiscalizar as medidas que vem sendo tomadas pela Chevron Brasil, formado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) e a Marinha do Brasil.

A plataforma envolvida neste acidente, a SEDOC 706, que perfura três poços da Chevron é da TRANSOCEAN, a mesma empresa dona da Deepwater Horizon que estava a serviço da BP no Golfo do México, no pior vazamento de petróleo dos EUA e da história da exploração em alto mar.

A Petrobrás é sócia da Chevron no campo de Frade, com 30% de participação no empreendimento. A petroleira americana, com 51,7%, é a operadora responsável pelas operações. A parceria é complementada pelo consórcio Frade Japão Petróleo, com os 18,3% restantes. O poço com problemas está no campo de Frade, na Bacia de Campos. Sua capacidade de produção é de 75 mil barris de petróleo por dia, que lhe garante o posto de oitavo maior campo do Brasil. No entanto, o poço produziu 80.425 barris de petróleo equivalente por dia em setembro.

A sorte deste dano ambiental não ser maior é que a mancha segue em direção sudeste, para o alto mar, afastando-se da costa.

 O que podemos aprender com este acidente?

Que o Plano de Contingência – que é exigido pelo CONAMA, conforme se depreende do post abaixo – precisa ser específico, em conformidade com a operação. Isto é, precisa considerar o óleo do poço (sua viscosidade (vide observação abaixo) e sua densidade (de menor importância). Também precisa considerar a localização da plataforma, do poço, em função dos ventos e das correntes marinhas. 

Observação: A viscosidade tem forte influência na aplicação de algumas técnicas de limpeza – dispersantes químicos e skimmers são ineficazes para produtos altamente viscosos – e é também um fator condicionante da dispersão. A viscosidade é fortemente influenciada pela temperatura, e aumenta à medida que o óleo envelhece e aumenta a evaporação das frações leves e formação de emulsão com a água.

Como é feito atualmente? Muitas empresas – NÃO TODAS – interpretam o Plano de Contingência como um custo, contratam uma consultoria mais barata possível, preenchem relatórios bonitos e cheios de gráficos não para utilizá-los, mas apenas para cumprir a exigência legal da Resolução do CONAMA!

Só com rigor, multa e fiscalização, poderemos educar as empresas para os elevados, dinâmicos e complexos riscos da operação off-shore (sejam elas no pós ou no pré-sal). A legislação é excelente mas pode ser melhorada. A Resolução 398/2008 do CONAMA, por exemplo, pode ter diferentes interpretações – quanto a profundidade da exigência – em diversos tópicos importantes. Esta Resolução substituiu a Resolução 293 de 2001 que está no post abaixo.

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O acidente com a Deepwater Horizon e o avanço da mancha de óleo: Outro Exxon Valdez?

O vazamento diário de petróleo no Golfo do México, originado pelo naufrágio da plataforma Deepwater Horizon (em operação da BP que alugava a plataforma por US$ 533 mil ao dia à proprietária Transocean), está em 5.000 barris de óleo por dia. No início estimava-se em 1.000 barris.

O navio Exxon Valdez derramou 250.000 barris de petróleo no Alasca. Para isso acontecer, o que definitivamente ninguém quer, o vazamento observado no Golfo do México (próximo a Lousiana – EUA) terá que se repetir por 50 dias.

A BP vinha tentando, apoiada por toda a tecnologia existente hoje, através de um submarino (ROV – Remotely Operated Vehicle, que está mais para um robô que um submarino) selar o poço, fato que – se fosse possível – resolveria o problema em questão de dias. Em paralelo o processo na superfície de controlar e usar dispersantes químicos reduziria o impacto ambiental do vazamento.

No entanto, nos parece que não foi possível selar o poço através do submarino. Isso pode ocorrer pela excessiva pressão interna do poço localizado a 1.500 metros de profundidade. Qual a solução? A BP terá que fazer outro furo atingir a mesma reserva de petróleo, e assim ao retirar óleo por outro canal aliviar a pressão. Permitindo então selar o furo através do submarino. O problema é que todo este processo demora muito!  Exatamente por isso a BP já anunciou que demorará 3 meses para estancar o vazamento. E assim, muito infelizmente, poderemos ter um novo recorde desagradável nos EUA.

No entanto, percebemos que lições do passado com o triste acidente do Exxon Valdez foram aprendidas. O governo Barack Obama está empenhado em auxiliar na solução. E a BP está gastando muito dinheiro e agindo muito rápido – com toda tecnologia possível – para mitigar os danos. No Alasca com a Esso (no caso do navio Exxon Valdez) não houve isso, ao contrário demoraram muito para agir e tentaram discutir as responsabilidades internamente com a Alyeska (pool concessionário da exploração do oleoduto no Alasca). No caso atual do acidente com a Deepwater Horizon, o CEO da BP (British Petroleum) mostrou pró-atividade ao dar uma entrevista à Reuters, Tony Hayward disse que a BP vai assumir toda a responsabilidade e compensar todos os danos causados, além de não medir esforços para sanar o mais rápido possível o vazamento.

O mercado segurador mundial estima que os prejuízos – contabilizando inúmeras coberturas e apólices – atinjam entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões. Para se ter uma idéia, o acidente com a plataforma Piper Alpha (Mar do Norte) em 1988, matando 167 pessoas, custou US$3.6 bilhões ao mercado segurador.

A Transocean possui uma apólice de US$10 milhões por ocorrência para acidentes pessoais afetando a sua tripulação (funcionários da própria Transocean operando a plataforma Deepwater Horizon). A empresa também possui na mesma apólice cobertura de outros US$5 milhões para cobrir danos a terceiros (funcionários da BP e outras terceirizadas que trabalhassem na plataforma Deepwater Horizon). 11 funcionários estão pressumidamente mortos e 17 feridos, sendo que destes 3 estão em estado grave.

A Transocean ainda possui cobertura de até US$ 950 milhões para qualquer dano a terceiros. Lembrando aqui que multas por danos ambientais não são cobertos em nenhuma apólice de seguro no planeta. Mas há cobertura, por exemplo, para a indústria pesqueira da Louisiana que está estimado em US$ 2,5 bilhões, e para o turismo na Flórida estimado em US$ 3 bilhões.

Ou seja, no que diz respeito a danos a terceiros, muito provavelmente a Transocean, a BP e outros envolvidos tenham que arcar com parte excedente dos prejuízos.  É importante lembrar que a BP é dona de 65% do poço, enquanto a Anadarko Petroleum Corp. possui outros 25%.

Já o dano material, coberto pela apólice de riscos de petróleo da Transocean, está segurado em US$ 560 milhões, embora estima-se que o valor atual de reposição de uma plataforma idêntica esteja em US$ 700 milhões.

A Partner Re já anunciou US$ 60 a US$ 70 milhões em perdas com a Deepwater Horizon, a Hannover Re anunciou perdas de US$ 53 milhões com o acidente, a exposição da Munich Re é de US$ 100 milhões, entre outras inúmeras seguradoras que completam a colocação destes seguros no mercado.

Quanto custa um acidente? Essa é a pergunta que todo gerente de riscos pretende responder para justificar aos gestores investimentos em proteção. Neste caso da Deepwater Horizon, e apenas citando a BP (sem mencionar os custos à Transocean), analistas de mercado estimam que custe à BP US$ 10 bilhões em capitalização da empresa no mercado financeiro. As ações da BP cairam 13% desde o acidente, representando US$ 20 bilhões, mas as ações deverão voltar a subir após a solução recuperando em parte esse custo. Enfim estimam o custo de US$ 10 bilhões para este acidente ! É muito dinheiro.

BP Transocean Deepwater horizon