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Lições: a tragédia das chuvas no Rio de Janeiro poderia ter sido evitada

Se houvesse gerenciamento de riscos na administração pública, não só do Rio de Janeiro, mas em todo o país, a tragédia ocorrida hoje (6 de abril de 2010) poderia ter sido evitada e mitigada para pequenos transtornos sem tantas vítimas fatais.

A COPPE/UFRJ há alguns anos criou uma ferramenta simples e barata, usada para medir o índice pluviométrico da cidade. Usando uma rede de colaboradores, estrategicamente espalhados pela cidade do Rio de Janeiro. E assim, monitorar o perigo eminente de deslizamentos nas encostas do Rio. Aparentemente esse sistema não foi perpetuado pelos governos seguintes.

Além disso, não se vê um plano de contingência com etapas a serem iniciadas após determinados índices de chuvas. Isso não custa caro. Trata-se de gestão. Um plano de contingência precisa ser criado para situações como a observada hoje.

Tal tarefa se inicia elegendo uma quantidade de funcionários públicos e voluntários da sociedade privada, residentes em um determinado bairro, para atuar neste mesmo bairro, como parte integrante de uma grande rede de informações interligadas a um comando central. Todos seriam treinados e teriam tarefas bem definidas (trânsito, informações e imagens, remoção de pessoas de áreas de risco, funcionamento de escolas e hospitais, etc.).

O segundo passo está na distribuição e uso dos recursos e equipamentos públicos. Qual escola servirá de abrigo? Após a chuva ceder, e as aulas precisarem ser iniciadas, para onde irão as pessoas desabrigadas e instaladas na escola (Maracanazinho, outro ginásio) ? Qual hospital terá atendimento de campanha para as áreas afetadas? Qual reboque e trator será usado ? Como se dará o deslocamento e logística dessas pessoas e equipamentos ?

Vale lembrar que não falamos de obras, limpeza de galerias, compra de equipamentos, etc. Só em gestão dos recursos atuais!

Angra dos Reis tem um plano de contingência para evacuação gerido e administrado pela Usina Nuclear de Angra. Ocorre que a probabilidade de um acidente nuclear em Angra dos Reis é muito menos provável que tragédias causadas pelas chuvas no Rio de Janeiro! Por que nada foi feito?

O Rio de Janeiro, parece estar aguardando a construção de um Comando Central, previsto para a Olimpíada de 2016, para então pensar nisso!

Poderíamos ter evitado os dias de luto e a quantidade de vítimas observadas na cidade.

Por Gustavo Cunha Mello

Prof. Gustavo Cunha Mello, Economista, com MBA em Gerenciamento de Riscos pela COPPE-UFRJ, Pós Graduação em Engenharia de Planejamento pela COPPE-UFRJ e Mestrado em Engenharia de Produção – Sistemas de Gestão pelo Latec-UFF. Gerente de Riscos, Corretor de Seguros, Perito Judicial e Investigador de Acidentes. Professor desde 2000 da Escola Nacional de Seguros – Funenseg – nos cursos técnicos e no MBA de seguros. Também é professor da UFF e do IBMEC nos MBAs de gerenciamento de riscos e gestão de projetos (PMBOK). Membro de Comitês na ABNT. Trabalha há 30 anos no setor de seguros e na consultoria de gerenciamento de riscos. Tendo concluído diversos cursos de seguros e análise de riscos no Brasil e no exterior através do AICPCU/IAA - American Institute for Chartered Property Casualty Underwriters and the Insurance Institute of America - Malvern - Pennsylvania, bem como cursos de Resseguros executados no Lloyds de Londres pelo CII – Chartered Insurance Institute. É articulista de diversas mídias especializadas em seguros e gerenciamento de riscos, bem como da Globonews e Bandnews na área de gerenciamento de riscos.