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Um mês depois da tragédia das chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro (FOTOS)

No dia 11 de janeiro de 2010, às 2 horas da madrugada, houve uma chuva muito volumosa que atingiu a Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro deixando 892 mortos (contagem até 10 de fevereiro), 400 desaparecidos, e 35 mil desalojados ou desabrigados nos 16 municípios afetados. 

O país tem, atualmente, cerca de 20 radares meteorológicos e 800 pluviômetros automáticos. Os radares captam dados sobre o movimento de circulação da massa de ar e de gotículas de água.  Os dados são processados em supercomputadores para prever a localização e intensidade das chuvas. Já o pluviômetro mede o volume da chuva que caiu. O monitoramento desse dado pode informar se o solo de uma região, como o das encostas de morros, recebeu muita água e pode ter risco de deslizamento.  A Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais (INPE) possui inúmeros sensores ambientais (clima, ventos, pluviômetros, etc.) os quais podem ser conhecidos no site: http://www.sinda.crn2.inpe.br/PCD/ 

Em média, a região serrana tem índice pluviométrico de 290 milímetros de chuva por mês, mas que em apenas uma noite Nova Friburgo teve precipitação de 182 milímetros, Teresópolis 124 milímetros, e em Petrópolis não há estação que consiga apontar com precisão a quantidade de chuva que caiu sobre a cidade. Vale lembrar que esta é uma média para a cidade toda, pois determinados bairros podem ter recebido um volume de chuvas diferente daquele bairro onde fica localizado o pluviômetro.

Imagem de Satélite do INPE-CPTEC do dia 11/01/2011 às 2:00hs AM
Foto de Satélite INPE-CPTEC das chuvas no dia 11/02/2011 às 2:00hs AM

 

Ainda que tenhamos uma variação dentro da região, o que explica um bairro mais afetado que outro nas cidades da Região Serrana, 182 mm de chuva significam 182 litros d´água por metro quadrado. Isso num curto espaço de tempo (uma noite) explica a enchente que destruiu casas e morros. Pela imagem de satélite percebemos que os bairros mais afetados de Itaipava e de Teresópolis estão próximos do mesmo conjunto de montanhas, o qual supostamente recebeu o maior volume de chuva. Na foto está faltando o bairro de Santa Rita mais ao fundo do Vale do Cuiabá e próximo da Posse em Teresópolis.

Mapa do Google Earth sobre a região mais afetada de Itaipava e Teresópolis
Mapa do Google Earth

No dia 5 de fevereiro de 2011 visitei o Vale do Cuiabá, no Distrito de Itaipava em Petrópolis. O cenário de destruição que presenciei me remete a uma situação de guerra: carros amassados como uma bola de papel, algumas casas rasgadas como que sacudidas por um terremoto, outras casas soterradas até o telhado. Os moradores com que conversei passam por um momento muito triste em suas vidas, parece que estão num interminável velório. Mas aos poucos a cidade vai se recuperando graças a força de seu povo.

Tirei algumas fotos que contam essa terrível história:

1) Me chamou atenção uma árvore de 50 metros de altura que possui machucados em uma parte bastante alta, comprovando o surpreendente nível que a enchurrada atingiu. A água e lama passaram empurrando pedras, troncos e outros materiais  que deixaram marcar nesta árvore.

 

Árvore encontrada 20 Km adentro do Vale do Cuiabá
Árvore encontrada 20Km adentro do Vale do Cuiabá

 

2) Carros completamente destruídos e levados pela força da água e lama como se fossem leves.
  

 Carro 4

 Carro 9

 

 Carro 10

 3) Estava no Vale – portanto cercado por montanhas – e para onde olhasse notava morros com deslizamentos graves, mesmo os menores. Não há nenhum morro sem deslizamento em qualquer direção que se olhe.

 

Deslizamento 4

Deslizamento 5

 

 Deslizamento 6

 

 4) Algumas casas foram completamente soterradas, outras ficaram submersas no mar de água e lama, restando apenas o telhado ou andares mais altos quando os tinham. Reparei nos relógios medidores de consumo de energia, que ficam normalmente à altura dos olhos entre 1,70m e 1,80m, e os encontrei encostados ao chão de lama. Ou seja, as casas foram soterradas até 1,70m de altura com lama. 

relogio de luz
Medidor de Consumo de Energia quase no nível do chão após casa soterrada

 

 

Repare o nível que a água / lama atingiu na parede da casa.
Repare o nível que a água / lama atingiu na parede da casa.

  

A força da água era tão grande que arrancou pedaços das casas.
A força da água era tão grande que arrancou pedaços das casas.

 

Este quarto foi invadido pela lama e galhos às 2hs da madrugada.
Este quarto foi invadido pela lama e galhos às 2hs da madrugada.

 

A altura da enchurrada foi desigual entre as casas.
A altura da enchurrada foi desigual entre as casas.

  

5) Da antiga fazenda só restou o silo.

 

Antiga Fazenda no Vale do Cuiabá
Antiga Fazenda no Vale do Cuiabá

 

Foto antiga da mesma Fazenda no Vale do Cuiabá
Foto antiga da mesma Fazenda no Vale do Cuiabá

 

 6) A Estrada do Vale do Cuiabá – Estrada Ministro Salgado Filho – foi muito prejudicada pela lama e entulho trazidos pela chuva. Possui vários trechos encurtados e destruição ao longo de suas margens. Os postes da rede elétrica e de telefonia derrubados já foram substituídos por outros novos.

Antigo poste derrubado pela força da chuva
Antigo poste derrubado pela força da chuva

 

Novos postes instalados restabelecem luz e telefonia
Novos postes instalados restabelecem luz e telefonia
Estrada Min Salgado Filho encurtada e com muitos obstáculos
Estrada Min Salgado Filho encurtada e com muitos obstáculos

 

Destruição à margem da Estrada no Vale do Cuiabá
Destruição à margem da Estrada no Vale do Cuiabá

 

Muitas pedras também foram trazidas pela enxurrada. Algumas enormes.
Muitas pedras também foram trazidas pela enxurrada. Algumas enormes.

 

 7) A ponte sobre o Rio Santo Antonio, que corta todo o Vale do Cuiabá e Vale da Boa Esperança para desaguar no Rio Piabanha de Itaipava, ligando a Estrada Philúvio Cerqueira Rodrigues  (que forma a BR 495 Itaipava – Teresópolis)  ao bairro Madame Machado foi afetada e encoberta pela enxurrada.

 

Ponte sobre Rio Santo Antonio que liga ao bairro Madame Machado
 
Ponte para Madame Machado
Ponte que liga a Madame Machado danificada, sobre Rio Santo Antonio

  

  

Conclusão:
Acredito que as imagens servem para contar a história real, pois a profundidade desta catástrofe jamais seria alcançada apenas por palavras. E na qualidade de gerente de riscos estudamos os acidentes para aprender com eles e trabalhar para que não se repitam. Reforço o discurso de remoção das áreas de risco, e de que enquanto isso não é possível que se criem planos de contingência. Resumidamente a idéia é de se monitorar o volume de chuvas e que quando estes antingirem determinado patamar que se evacue a região afetada.  

Por Gustavo Cunha Mello

Prof. Gustavo Cunha Mello, Economista, com MBA em Gerenciamento de Riscos pela COPPE-UFRJ, Pós Graduação em Engenharia de Planejamento pela COPPE-UFRJ e Mestrado em Engenharia de Produção – Sistemas de Gestão pelo Latec-UFF. Gerente de Riscos, Corretor de Seguros, Perito Judicial e Investigador de Acidentes. Professor desde 2000 da Escola Nacional de Seguros – Funenseg – nos cursos técnicos e no MBA de seguros. Também é professor da UFF e do IBMEC nos MBAs de gerenciamento de riscos e gestão de projetos (PMBOK). Membro de Comitês na ABNT. Trabalha há 30 anos no setor de seguros e na consultoria de gerenciamento de riscos. Tendo concluído diversos cursos de seguros e análise de riscos no Brasil e no exterior através do AICPCU/IAA - American Institute for Chartered Property Casualty Underwriters and the Insurance Institute of America - Malvern - Pennsylvania, bem como cursos de Resseguros executados no Lloyds de Londres pelo CII – Chartered Insurance Institute. É articulista de diversas mídias especializadas em seguros e gerenciamento de riscos, bem como da Globonews e Bandnews na área de gerenciamento de riscos.

2 respostas em “Um mês depois da tragédia das chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro (FOTOS)”

bom dia. sim, a tragédia teve consequências que irão transformar a vida da região. O pensamento agora é: como trabalhar um país que não pensa o futuro. como viver com o medo de tudo – marginalidade, crimes, decisões políticas demagogas – e agora também o medo da enxurrada que a natureza está trazendo. Complicado.

Se aprendessemos com os erros do passado, a tragédia não teria acontecido. Perguntem aos mais velhos se o ocorrido em 1966 não foi até pior do que o ocorrido agora. Infelizmente se dependermos do poder público, daqui a 45 anos ou menos vamos estar assitindo a tragédia similar. As ações precisam ser imediatas. E o imediato já passou, as pessoas já estão vivendo suas vidas, e nossos políticos já voltaram seus olhos para a Copa do Mundo e Olimpiadas. Lamentavelmente, o bonde da história passou novamente e não conseguimos entrar nele.

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